Terça-feira, uma
matéria/reportagem chama a atenção e choca no Jornal Nacional. Em outras
circunstâncias seria apenas mais um idoso que morre em consequência de uma
doença já avançada. Mas a doença só não foi o a causa da morte. Uma vida foi
tratada como lixo, assim como ocorre todos os dias para muitos que dependem da
saúde pública brasileira.
Tudo começa com uma simples chamada
telefônica. O senhor em questão passou mal e ao chamar a emergência o caso foi
ignorado, alegando que não havia ferramenta adequada para transportar o
paciente no carro do SAMU. O atendente ainda foi além: desligou na cara do
cidadão que estava na linha. A reportagem teve grande repercussão. Mas por que
será que o choque foi tão grande já que casos como esses se passam todos os
dias no país?
A resposta é simples e muito, muito
triste: acomodação, costume, habito. Acostumamo-nos a ser tratados como lixo.
Em PSF’s e hospitais faltam médicos, remédios, ferramentas necessárias para que
o profissional que ainda existe possa realizar seu trabalho, no mínimo,
decentemente. Ocorre a carência de profissionais porque se paga mal ou não se
paga nada. Quem estudou tanto, primeiro para passar no vestibular e depois, e
mais importante ainda, para sobreviver aos cinco anos dentro de uma
universidade, não quer ganhar o que está sendo oferecido em redes públicas, que
é necessário ser dito é uma humilhação e não só para o médico.Muitos estão nas
ruas a lutar contra a entrada dos médicos estrangeiros no país. O fato é que
muito tem para se aprender não só com a tecnologia como a experiência do
estrangeiro, mas dar lugar ao de fora enquanto o brasileiro ainda não tem seu
espaço também não ajuda muito.
O cenário é o seguinte: macas no
meio dos corredores, junto com outros pacientes que também ficam expostos a
vírus que ainda não possuíam. Isso quando há macas. Porque cadeiras, muitas
vezes se “transformam” em macas circunstanciais. Ou seja, estruturas
hospitalares inadequadas só para começar. Locomoção então nem pensar.
Ambulâncias guardadas para poupar gastos. Só que tal poupança não vai para
cofre público e sim pessoal. Como é o caso de investimentos em construções de
redes hospitalares, onde metade do dinheiro investido vai para o bolso de
figuras que estão nos cargos de grande responsabilidade.
Uma série de fatores transformam a
saúde pública em mito. Mito porque ninguém mais tem o direito de ficar doente.
Mito porque mesmo sendo um dos únicos sistemas universais de saúde pública do
mundo, o Brasil ainda tem muito que aprender. Melhorar, evoluir, saber que
temos sim o direito à saúde e que não é um mito. Mas primeiro tratemos de
encontrá-lo. Esse direito parece que se escondeu. Não
consigo enxergá-lo.